Resiliência da Tebaida

"Estudante sou. Nada mais. Mau sabedor, fraco jurista, mesquinho advogado, pouco mais sei do que saber estudar, saber como se estuda, e saber que tenho estudado" (Rui Barbosa).

"Ler demais é deletério pois nos dá uma falsa impressão de inteligência" (Carolina Belém).


Minha cabeça sempre transbordará coisas e mais coisas estudadas... Bem? Mal? Quem costuma me ler dirá! Porém jamais suficientes para se compreender bem algo por mínimo que seja. Mas... Esta sina tão-só minha vem a ser ou é a de qualquer ser humano por seus estudos? As mentes, na consciência de tanto, costumam empancar aqui com dois jeitos: ou na desesperança que nada vai de fato conhecer enfim, a se tornarem então mais tantas de quantas meras diletantes, em nosso pensar contemporâneo demais reconhecíveis, ou muita segurança manterão no pouco conhecido que vão tomar isso quase nada suficientemente para se conhecer, assim obviamente de suposto, tudo na prática. São ambas as atitudes, ou posturas, equívocas pois o conhecimento requer a resiliência da Tebaida.

Quem é de tudo descrente sabe gestualizar o primeiro jeito de ser. A segunda postura costuma ser religiosa. Porém a capacidade de se manter em suspensão um juízo não é de lá. Nem é de cá qualquer devoção bem exercida.

Necessitamos suportar a tensão de viver. E transformar tal em tesão. As musas são mulheres e quase sempre vão nuas pelas estradas da vida.

Minha cabeça, por inúmeras vezes, ou melhor, minha mente, tamanho peso sente consigo demais com tantas informações sobre Céus e Terra para serem absorvidas após se compreendidas. Aqui digo "Céus e Terra" para se referir a tudo. Por qual motivo não "Deus e mundo" dizer? Ou "Vênus e Minerva": de logo remeter à razão esta mais àquela para qualquer sensibilidade? Qual a melhor descrição daquilo que digo? Já no discurso titubeio se não ou descrevo bem ser ou coisa. Ser ou coisa? Tudo? Tantos empecilhos na linguagem do peso mental não me distraem. Ou será cordial: então no peito? Será no corpo todo? Quem há de refletir assim senão meu ser espírito? Meu ser alma? Não é só no cérebro minha mente mas é também no sistema nervoso por inteiro? Santa Virgem de Cimbres!

Que nos resta senão estudar até quando na visão beatífica?

Mas em tamanha contemplação já não há de sentir ninguém o peso dos estudos. Seu jugo: suave. Seu fardo: leve.

Porém agora? Suspensão dos juízos e devoção estudiosa!

Religião... Astronomia... Psicologia... Geologia... Geografia... Biologia... Teologia... Física... Simbologia... Poética... Neurociência... Metafísica... Sociologia... Política... Sem esgotar as áreas estudantis possíveis de serem tomadas neste páragrafo, com seus tantos e vários questionamentos, é possível ter assim alguma compreensão abrangente daquilo que real vem a ser? É desistência na certa de tal busca por algo conhecer afinal? Mas há quem ignore tudo por completo? Nas caminhadas matinais algo sei. Também nas vespertinas. Ou madrugadoiras até. Com quem quer que seja também nas conversas. Enfim no cotidiano. No canto de Trabuco. No meu sono gostoso de sonhar com Carolina Belém. Ah!... Carolina! Na bandeira pernambucana tremulando pendurada na parede do terraço de casa. Mas um bom tanto disso tudo que converso já não foi discutido bem por Emanuel Kant, Xavier Zubiri, João Batista Vico, Jorge Hegel, Aristóteles, Agostinho de Hipona, Frederico Nietzsche, Nicolau Malebranche, Farias Brito, Platão, Ana Arendt, Tobias Barreto, Severino Boécio, Plotino, Tomás Aquinate, Confúcio... Mais tantos outros nomes? Mil livros sobre mim desabam! E nem sei como fazer ao menos Carolina feliz.

"És uma puta biblioteca para mim!": digo para Belém. "E nem adianta ler até Platão ou Plotino vezes sem conta. Se pois a mera contemplação da natureza de bichos e plantas em muito supera qualquer meditação leitora por ambos os autores citados quanto mais a tua presença! Vem a ser fraquíssima, conseqüentemente, minha comparação entre ti mais a biblioteca. Seria fortíssima comparar tamanha presença com a visão beatífica: mas aqui já tem hipérbole das bravas. Assim ainda vais mais próxima dos anjos do que de vários livros por melhores que sejam. Estes aquém de ti, portanto, são demais. Então... Mil perdões! És divina. Qualquer mulher é mais divina que Platão em sabedoria. Já por ter a capacidade de gerar a vida. Também em sua beleza provável".

Amizade tamanha vários auxílios na busca de Minerva me presta. Porém ela tensiona mais assim a tensão do conhecimento!

Sim: resiliência.

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