Força Peculiar


Minha cidade, lugar amado mas também, admito, certas vezes odiado por mim, onde sou jovem e fui criança, faz neste mês baita festa. Não é festa de badalação. Mas é de badalo: de sino. Sino porém não só tocado na torre do templo. Tem Antão, santo dos mais venerados pelo catolicismo bizantino, mas no Brasil só sendo padroeiro de cidade venerado por cá na minha (Veja só, quem me lê, meu privilégio!), na ponta de seu cajado também um sino. Contra qualquer incêndio tal santo protege: tanto de casa quanto de mata. Portanto nada digo dos que são provocados embaixo das roupas.

Entretanto precisamos lembrar Antão sendo monge. Talvez ele também ajude mandar para longe toda luxúria. No deserto, por onde viveu quase que seu tempo de vida completo, foi tentado por algo que se fazia passar por mulher mas era Satã. Também então o fogo das pernas ele conhece bem e sabe dá fim... Êta! Voltemos ao sino do cajado.

Para bem alertar qualquer incêndio começando se faz barulho: daqui temos a campa na ponta do báculo santo... Não era cajado? Bem... Outra peculiaridade vitoriense, pois a cidade se chama Vitória, Vitória de Pernambuco, que temos: Antão em imagem de trajes episcopais.

Sei lá por qual motivo! Talvez, que nem Alexandre, por grande ser. Ou, como diz Frei Manuel Calado, glorioso.

Festejamos Antão em novena. Depois, no dia de sua morte, fazemos procissão e temos missa rezada. Já vão fazer, daqui por algumas translações, quatrocentos anos de devoção! É tempo!

No tempo do povo batavo, quando colonizador das bandas do Recife, depois que Maurício de Nassau deixou de governar Pernambuco, tivemos aqui batalha por tabocais que viram a flor da soldadesca neerlandesa perder feio de primeira vez para nossa nação açucarada. Vitória por tal período não passava de povoado mas Antão a protegia já. Dizem as crônicas que nosso padroeiro, juntamente com a Virgem Maria, deu proteção em favor da vitória pernambucana.

Desde lá sua proteção é das boas! Por bastante tempo nós plantávamos em pequenos roçados: diversos das grandes plantações de cana próximas ao litoral. Vivíamos de feira. Ganhávamos pouco. Precisávamos nos alimentar com as roças portanto. Nossos maiores inimigos então eram animais. Os porcos do mato davam fim às nossas plantações. As onças suçuaranas matavam nosso gado miúdo. Sim: estávamos em lugar bravio que nem o do santo. Só que cá não era deserto mas mata.

Relembremos as tentações. Outras, além da feminina, teve nosso santo pai. Travestido de bicho feroz, ou de qualquer coisa que pudesse fragilizar um ser humano, Satanás não deu sossego por um bom tempo para nosso velho. Mas a resistência de quem é pelo céu faz desandar intentos diabólicos mil! Portanto cá nós estamos. Também sobrevivemos. Antão é forte! Festejamos então bem e não hei de falar na festa profana pois igual que qualquer outra vem a ser. Aqui desejo tratar só de peculiaridade. No mais: de vez em quando também a festa se torna tentação... Há!

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