Sagrada Nudez

"A alma ama seu corpo e o tem como uma bela vestimenta e um adorno encantador" (Hildegarda de Bingen).

"A arte, em seu anelo de simbolizar da melhor forma possível sua concepção do belo, tem recorrido quase sempre ao corpo humano" (Guilherme Shield).

"A relação entre o homem e o vestuário não é, em primeiro lugar, de natureza moral e sim, de natureza metafísica e teológica. Com esta questão aproximamo-nos das verdades mais centrais da fé cristã; impossível, pois, resolver um problema metafísico e teológico por meio dum simples julgamento moral" (Érico Peterson).

"A vida não foi inventada pela moral" (Frederico Nietzsche).

"O recurso à fraude e aos sofismas na defesa da revelação traz-nos com muita freqüência à lembrança a conduta leviana dos poetas que sobrecarregam seus heróis 'invulneráveis' com o peso inútil de armaduras incômodas e frágeis" (Eduardo Gibbon).


A bela nudez sempre requer a promoção do contato com algo sublime.

Não há tantra sem fazer amor.

E tal desnudez pede Céus pois é a personalidade toda traçada na carne: traço d'alma na matéria. Daqui podemos já vislumbrar algo da razão do Catolicismo proibir o sexo por antes do matrimônio. Também da razão de Cristo só desejar a monogamia. Mas... Eis temas cabíveis em outros momentos! Agora nos detenhamos no corpo do ser humano nu: não castigado com a perversão de Nelson Rodrigues, de Cláudio Assis ou de Lars von Trier.

Não sou fã da nudez masculina. Considero-a tão imperfeita diante da de qualquer mulher!... A feminina não é só libido mas também nutre. Portanto libido das libidos! Não é só corpo mas também é casa da vida. Portanto formosura das formosuras. Vem a ser inspiração para qualquer civilidade portanto. Jamais assim estará de qualquer selvageria perto. Nenhuma civilização se poria de pé sem ao menos ter entrevisto corpos nus de fadas, ninfas, valquírias, bacantes, cunhatãs ou musas. O papel da mulher, então, é certamente similar com o divino que contém tantos nomes quantos podendo nomear a variedade de seres ou coisas existentes no cosmos: até mais! Adão soube nomear cada parte da criação pois diante de si soube resplandecer Eva com sua formosura nuinha: bem nuinha. Que vem a ser qualquer inspiração além de contemplar algo feminino? Mais nada.

Todavia vou sem negar que tamanha beleza possa ser um poucochinho de pouquinho vislumbrada já no corpo do mero rapaz efebo pois afinal ele não nasceu de chocadeira que nem as bugigangas robóticas na mental. Sou sensível para com esse resquício de beleza quando, por exemplo, contemplo Nosso Senhor. Evidente que ser humano mais belo jamais ontem, hoje, para sempre também, existirá. Mas as suas imagens imitam os homens restantes: tão outros pois indo longe de Jesus na sedução. As mulheres estão mais próximas em pulcritude da Virgem que qualquer rapazola, sedutor de prima, do Cristo.

Desejaria ver, porém e conseqüentemente, mais crucifixos nus nos templos. Oh!... Que pecado! Pecado? Salutar afirmação de minha queridíssima Carolina Belém, de ser a nudez sagrada, negará tanto. Quer mais intimidade quem se mostra de corpo nu? Normalmente tal revelação (Atentemo-nos à filologia desta palavra: tirar o véu...) vai se dar com alguém íntimo. "Tão íntimo quão Deus: quem há?": Miguel nos pergunta. Transpareceremos assim, para quem agrado tão nosso consegue ter, o nosso ser por inteiro: decerto só plenamente confortável na nudez em pêlo sem ser constrangida. Mais: um dos melhores símbolos característicos da verdade não vem a ser um mulherão nu?

Temos Alexandre Magno, juntamente com a Grécia que lhe deu formação educacional, a se desnudar por um rito sagrado, com sua companhia de mil batalhas orientais, em homenagem ao grão Aquiles ante seu túmulo. Grão Aquiles!... Que sabe transformar em trono qualquer lugar por onde vai sentado. Tamanho poder, em um de seus momentos mais intensos, é pintado por Benouville.

Maior herói não é Cristo? Melhor herói não é Jesus?

Já crucificado só com o mero pano Nosso Senhor causa comoção à beatice fêmea tão longe de camas mas tão perto de genuflexórios. Eu sei: desmaiariam ao ver a genitália da Divindade Suprema! Porém... Assim não é Cristo? De causar comoção portentosa desde chamando Javé de Pai, passando por frequentar um poviléu publicamente pecador até quando se diz ressurecto logo de vez à mulher Madalena? Não tapemos desse modo sóis com peneiras! A visão beatífica só se dará nuinha: bem nuinha. Quem ama gostosamente sem se desnudar? Ninguém!

Graças aos Céus houveram artistas já de grandeza maior ou de sensibilidade primorosa retratando Nosso Senhor sem esconder nadica de nada corporal.

Sigo com alguns exemplares.

É de nos sensibilizar pelo corpo todo quem anonimamente no quinto século pela graça de Nosso Senhor faz um mosaico com Jesus sendo batizado por João Batista. Talvez historicamente não se deu tal acontecimento com a plena nudez divina sendo lambida pelas águas do Jordão? Talvez. Mas as águas batismais nos tomam em espírito: na nudez plena de nosso ser. De nos lavar e bem sem qualquer empecilho. Tomavam os corpos, é situação quase certa, sem qualquer veste dos indivíduos resgatados para Cristo nos primórdios da Cristandade. Certamente, por sinal, ao paraíso retornaremos com o vento nos beijando por cada pedacinho de nossa pele... Vento benfazejo! Vento do São Espírito.

Gradativamente Jesus vai mais vestido pelas artes enquanto Roma se desfaz. E quando Roma se refaz despido novamente será Nosso Senhor. Abrindo parênteses então acerca do perizônio, tanga de pureza suposta pois aquilo que vem a ser puro bem será nu, quem o pôs e dispôs nas artes com maestria lho punha mais despindo que cobrindo: do contrário, na maioria, sem arte tanta magistral.

Voltemos à nudez plena tão bela quanto Deus?

Um Cristo desnudo crucifixado, feito por Donatello, não o Jesus camponês mas outro, dos Cristos donatelistas talvez o mais artístico, vem a ser magnânimo pela sua musculatura titânica mas em aparência de gente simples. Porém assim não é seu camponês? Não pois melhor que nem o feito por Brunelleschi. Deste, por aliás, bastante diferente pois com genital: além, obviamente, da sua qualidade superior.

Por agora contemplemos, os exemplos seguindo, Miguel Ângelo com alguns de seus crucificados. Tão doces na morte quanto todos os Céus nas dificuldades de quem por eles tem devoção. Tal doçura se revela bem, inclusive, no tamanho do pênis: pueril. A ternura com que nos comove tamanha graciosidade no Ser Divino que sofre por nós, gente bruta com tanta maldade de mil pecados, tão animalesca quanto jumentos a ponto de bala, reverbera nos corações de quem contempla nudez assaz singela! Nudez especial para se rezar com devoção ímpar rosários ou vias-sacras. Nudez de dar abraços maternais ou fraternos.

Infelizmente seu Cristo da Minerva, já não pueril mas bem másculo, com músculos tesos a tomar, e bem, sua cruz pesada, vai, do barroco por diante, sem ostentar seus atributos sexuais, ou seja, cobriram definitivamente seus escroto mais pênis. Imbelicidades de Trento com suas carolices a destruir árvores de Jessé! Tanta perfídia não se deu com seu Cristo já morto, morto que nem um atleta nas lutas após, sendo colocado no túmulo.

Com essa virilidade Cellini deseja revelar um "Eis o Homem"! Um homem de verdade que põe debaixo de seus pés um homúnculo chamado Felipe II das Espanhas. Um então Apolo crucifixado pode nos fazer amar a Jesus mais e mais? A mentalidade tacanha da carolice persistente no Catolicismo dirá que não. Contudo sim: pode. Mulheres amam homens e geram vidas... Amor tal das boas aprendizagens é: para se bem querer o fim último. Que tal? Mas... Os homens? Vão obter algum ganho com tamanha contemplação desavergonhada? Sim! Que sejam homens que nem o crucificado! Sem medo. Nem pudor. Alexandre diante d'Aquiles.

Em fins do século XIX Max Klinger um Cristo nu crucificado pintou. Ruivo por uma pintura bem estranha. Lembra Michelozzo! Com exceção dele, nalguma beleza que se remete simples pois é quem é e só alguém crucificado, mais a da mulher a desmaiar perante tal Cristo contemplado cru no madeiro: no resto vem a ser... Esquisita. Sem beleza tal esquisitice diversa bem é da beleza demais estranha do Cristo Jesus a receber um abraço da morte de Ricardo Flecha. Nele vai registrado seu completo ser abandonado na consumação de seu tremendo sacrifício. Cristo de nosso tempo que processionalmente sai pelas ruas de Medina del Campo na semana maior. Infelizmente sai com um "pano de pureza".

Tem um tal de Triegel que pinta maluquices. Entretanto pus com algum agrado meus olhares ante seu quadro da ressurreição de Cristo. Com atenção às narrações evangélicas Jesus saiu ressuscitado pelo mundo sem qualquer pano para se cobrir. E três mulheres o viram assim! Que bênção! Jesus vivo por inteiro: corpo com alma na boa liga da conjunção perfeita que só a beleza toda transparente dá. Triegel à flor da pele registra tal momento. Simplesmente: tão-só. Não formoso quão o d'El Greco bem esculpido mas tem o sexo bem formado.

Quero registrar em último lugar um exemplo divino pois é, supostamente pelo menos, do próprio corpo de Jesus! O sudário de Turim um homem traz bem estampado consigo pela sua tessitura. Com todas as marcas da sagrada paixão inclusive. Fizeram uma reprodução hiper-realista dele com três dimensões... Emocionante! Nu de tão real em seu viver histórico maravilhosamente registrado por seus últimos momentos bem assim. Um pênis judeu, porém, não pode ser contemplado pois suas mãos o pudicamente cobrem. Aliás quem for esculpir Jesus nu deve ter atenção para detalhe tal demais importante não observável por quase todos os exemplos anteriores.

Por fim tamanho, que de tão exemplar é santo por três vezes, encerro meu percurso perante machos em sua nudez genuína: com robustez e saúde. Saudável a quem ama seres humanos! Quem mais nos ama senão as alturas? Com alguma feminilidade também essa nudez vai pois ela contém alguma beleza. Tanta pulcritude fêmea tomada somente de migalha pela masculinidade!... Pele talhada masculamente com alguma destreza, sem dúvida, mas de luz emprestada que nem a da lua pelo sol. Só desejo voltar assim para minha contemplação ao feminino do qual sinto já saudades imensas...

E viva Maria Madalena!

No mais este texto, por além de ser dedicado para Carolina Belém, admiradora sincera da nudez masculina, pois desconfio que várias mulheres, feministas em bom número, sinceramente não admirem tanta virilidade, também dedico para Florência Ehnuel que meu coração aqueceu com seus elogios rasgados ao meu sexo. Quando conhecê-la, Carolina, passa minha dedicação à tal criatura doce! Sem esquecer: gostosa, que nem a íntima parte viril em sua voz repleta de tesão e carinho, pois alegrou meu genital duma maneira...

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