Atrevimento Poético

De nossa literatura vem a ser um dos nomes clássicos Antônio Ferreira. Clássico no sentido restrito do termo: fazendo parte da geração beletrista que deu para nossa língua sua forma definitiva. Geração de Luís Vaz... Grande Camões que soube dizer a nossa língua por sua melhor forma!

Quem, todavia, declarava por alto bom som a vontade de lapidar bem sua língua sem dúvida vem a ser Ferreira. Conscientemente tentou dar um acabamento primoroso de chegar aos ombros da latina... Sem sucesso! Basta comparar seus versos com os camonianos.

A valorização, porém, do grão idioma de Pessoa vem definitivamente dele. De tal geração só Ferreira punha por escrito sua literatura tão-só na língua materna. Todos os outros nomes literários de seu tempo no mínimo bilíngües eram nos seus escritos.

Bem... Eis um de seus poemas duros e juntamente deste minha tentativa de melhorá-lo. Da pontuação na poesia ferreiriana: minha para melhor fruição de sua leitura. No mais... Apesar de não ser astro de primeira grandeza tem algo de gênio bastando ler suas poesias à nossa língua mais a sua tragédia.

Viva Ferreira!


II

Aquela, cujo nome a meus escritos
Que a meu amor dará melhor ventura,
Toda virtude, toda formosura
Que após si leva os olhos e os espritos;

Aquela branda em tudo, só aos gritos
Meus surda... Áspera aos rogos... A amor dura
Podia c'um sorriso, uma brandura
De olhos curar meu mal... Ornar meus ditos...

Mas que dará de si uã estéril veia?
Um desprezado amor? Uã cruel chama
Senão desconcertado e triste pranto?

Quem de tristezas vive: só me leia.
Cante a quem inspira Amor mais doce canto!
Busco piedade só: não glória ou fama.



II

Um nome posto vai por meus escritos
De ter amor bem meu: sua ventura.
Com tal virtude!... Tanta formosura
Que põe detrás de si seres benditos!

São brandas pois em tudo... Mas aos gritos
Só meus vão surdas... Oh, mulher tão dura!
Podia sorridente com brandura
Meus prantos enxugar? Eis vãos meus ditos!

Que pode bombear tão dura veia?
Meu coração despreza!... Tanto!... Tanto
Que por seu peito sem calor ou chama

Só quem tristezas vive bem lha leia!
Nas várias laudas minhas mágoas canto
Por piedade só: nenhuma fama.


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